Atendendo, mais uma vez ao questionamento dos leitores, retorno ao tema da futurologia x arte divinatória,
em virtude de alguns e-mails, de leitores que são astrólogos,
reclamando de meu artigo anterior – afinal astrologia é ciência ou não? E
nas demais artes divinatórias – não existe nem um pouco de ciência?
Recordando que em nosso artigo da semana passada discorremos sobre as
principais diferenças entre futurologia e arte divinatória:
1. Futurologia é uma ciência cujo foco de estudo é o futuro. Busca
antecipar-se ao que pode acontecer no futuro usando para isso a
observação, a lógica – e consequentemente – a razão. Vale-se de uma
linguagem clara e objetiva sendo geralmente apoiada por índices de
probabilidade.
2. As artes divinatórias buscam prever o futuro valendo-se de forças
ou poderes sobrenaturais, tendo como base um oráculo e/ou recursos
“místicos”, tais como bolas de cristal, cartas de tarô, búzios, tábuas
ouija, pêndulos, etc. Sua linguagem é geralmente simbólica, cifrada ou
hermética e fundamenta-se na fé de seus praticantes pela respectiva
arte.
Tendo o intuito aqui de efetuar as devidas diferenciações, inicio com
um conceito bastante elementar de ciência (existe muito mais nessa
cornucópia):
Ciência é o conjunto do conhecimento humano dotado de objetividade e
universalidade, socialmente adquirido, historicamente acumulado sujeito à
comprovação feita pela observação e/ou experimentação e/ou pela
evidenciação lógica (leia-se aqui o uso do rigor matemático) – não se
admitindo, portanto, argumentos de autoridade.
Um dos exemplos mais gritantes do efeito desastroso que o argumento
de autoridade pode provocar é o caso da defesa de Aristóteles e Claudius
Ptolomeu ao Geocentrismo. Naquela época, quem ousaria discordar? Por
séculos esse equívoco perdurou.
Atualmente todo o conceito novo é examinado exaustivamente pela
comunidade científica e posto à prova antes de receber a chancela de
“conceito científico” – não importa quem seja o seu autor.
Aliás, quando mais “importante” for o autor do artigo maior é a “gana” com o qual ele será examinado.
Imagine meu prestígio se eu conseguir provar matematicamente (ou pela
experimentação ou pela observação de algum fenômeno cósmico) que a
Teoria Especial da Gravitação de Einstein apresenta erros formais. Uau!
Prêmio Nobel para mim!
Logo: argumento de autoridade não é científico.
Da mesma forma que juízo de valor:
Por exemplo:
A ideia de que a vaca é sagrada não é científica.
O conceito de “sagrado” é juízo de valor – é subjetivo, é argumento
de autoridade (alguém muito sábio e/ou muito importante afirmou isso). E
também não é universal – com todo o respeito aos praticantes, a vaca é
sagrada apenas entre os hindus.
E por aí vai.
Voltando à astrologia:
Mesmo que o mais importante cientista dê seu testemunho de que a
astrologia “funciona” e de que seu mapa astral evitou que ele morresse
de um derrame, a astrologia não seria classificada como ciência (que
meus caros leitores astrólogos me perdoem se estou estragando seu
mercado).
Mais uma vez:
A ciência não admite argumentos de autoridade.
Não existem evidências científicas da influência dos astros sobre a vida das pessoas.
Sou sagitariano, logo Júpiter me influenciou no instante em que nasci.
No instante de meu nascimento, o efeito, por exemplo, do campo
gravitacional do médico obstetra é muito maior do que o do campo
gravitacional de Júpiter. Isso por que o médico estava muito mais perto
de mim do que Júpiter. Isso é provado matematicamente pelas leis da
gravitação Universal.
Então não é a gravidade que influencia. O que influencia então?
Mesmo que o astrólogo tenha que realizar observações astronômicas
complexas, executar cálculos sofisticados – não existem evidências
causais entre o “destino” de uma pessoa e as posições relativas dos
planetas em “casas” específicas de arranjos meramente visuais de
estrelas muitíssimo distantes uma das outras – coisa que chamamos de
constelações.
E isso se aplica às demais artes divinatórias.
Quando não são comprovadas as relações causais entre o fenômeno
oracular observado (sorteio de cartas de um baralho, movimento de
astros, de pêndulos, etc.) e o futuro previsto para o consulente,
essas previsões não poderão ser intituladas de científicas.
Simples assim.
Em minhas palestras sobre o Método Científico, muitos de meus alunos
questionam esse ceticismo da ciência, como se fosse um empecilho à
criatividade e à imaginação.
O ceticismo é uma poderosa ferramenta da ciência desde que aliado à
observação criteriosa, à inteligência, à razão e à experimentação.
Duvidar por duvidar é tão estéril quanto acreditar por acreditar.
Eu vou duvidar até o instante em que conseguir a comprovação. Se não, vou continuar duvidando.
Evidentemente não vou julgar ninguém pelo fato de acreditar em horóscopo. Cada um tem a liberdade de acreditar no que quiser.
E afinal, emitir juízo de valor pode ser eminentemente humano, mas não é – em absoluto –
científico.
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