Estudiosos lamentam discurso do papa sobre drogas

Discurso do papa Francisco sobre as drogas decepciona estudiosos do comportamento humanoEspecialistas lamentaram a posição do papa Francisco em seu discurso,  quando criticou iniciativas que estariam “deixando livre o uso das  drogas”. Segundo a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centro de  Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes,  “lamentavelmente, o papa se equivoca ao relacionar as política  antiproibicionistas com uma ideia de liberou geral, de anarquia, quando é  justamente o contrário”.
- As pessoas que defendem a legalização a querem com regulação, com  ação do Estado. Hoje, as drogas são proibidas e, mesmo assim, o consumo  cresce no mundo.
 papa francisco legalização drogasDiscurso do papa sobre as drogas decepciona estudiosos do comportamento humano (Foto: ABr)A jurista Maria Lúcia Karam, membro da ONG internacional Leap (Law Enforcement Against Prohibition),  disse que o papa “irá compreender, mais cedo ou mais tarde”, que os  sofrimentos causados pela proibição são maiores do que os do vício.  “Essa política de guerra às drogas é inconciliável com os valores  cristãos. Ela provoca violência, morte, está enchendo os cárceres do  mundo todo”, disse. “A legalização da produção, do comércio e do consumo  de todas as drogas é fundamental para por fim a esses sofrimentos.”
Especialistas elogiaram a figura do papa, por seu perfil carismático e  humanista, mas afirmaram que ele está mal orientado no tema.
- Ele tem uma postura que é extremamente inspiradora e positiva e,  por tudo isso, eu tinha uma esperança muito grande de que ele pudesse  vir a se tornar uma liderança positiva nas áreas mais importantes da  experiência coletiva global – disse o antropólogo Luiz Eduardo Soares,  ex-secretário nacional de Segurança Pública.

- Essa opinião é profundamente equivocada. É muito  bem intencionada, ninguém duvida, mas está na contramão do que os  pesquisadores têm encontrado crescentemente. A proibição está na raiz de  todos os problemas mais importantes e da violência associada às drogas.
Soares afirmou ainda que, em sua crítica, Francisco deixou de se referir a substâncias lícitas como álcool e tabaco,  cujo consumo e a dependência estão muito mais disseminados entre a  população, com maiores danos. “Se ele e
Pedro Abramovay, professor da FGV-Rio e ex-secretário nacional de  Justiça, fez uma interpretação positiva do discurso papal. “Me conforta  ouvir que a maneira [de lidar com os usuários] que ele enfatiza é a do  tratamento, da saúde, da caridade, e não a da prisão, que é o que vem  sendo aplicado em boa parte da América Latina e do mundo.”
stá convencido de que a proibição  é necessária, teria, por uma questão lógica, de estendê-la ao álcool e  ao tabaco. Será que o papa está disposto a arcar com o corolário da sua  própria proposição?”, perguntou.
Imprensa internacional destaca discurso do papaO discurso do papa Francisco condenando a liberalização do uso de  drogas, durante a inauguração do Polo de Atendimento a Dependentes  Químicos, do Hospital São Francisco, no bairro da Tijuca, Zona Norte do  Rio, foi destaque na imprensa internacional.
O site do jornal inglês The Guardian ressaltou que o  pontífice entrou em temas políticos com uma veemente condenação dos  movimentos de legalização do uso de drogas. Segundo o jornal, os  comentários do papa vão de encontro “ao movimento crescente na América  Latina de liberalizar as vendas de maconha e outros narcóticos a reboque  de décadas de violenta e ineficiente guerra contra as drogas na  região.” O jornalista Jonathan Watts também destacou que o papa  Francisco “lançou um rigoroso ataque contra os mercadores da morte que  vendem drogas”.
O jornalista do periódico espanhol El País, Pablo Ordaz,  informou que o pontífice fez um apelo “contra a praga do narcotráfico  que favorece a violência e semeia dor e morte”. O jornal também destacou  a primeira homilia do papa na Basílica do Santuário Nacional de Nossa  Senhora Aparecida. De acordo com o El País, o papa enfatizou que os  católicos não podem ser pessimistas e que a Igreja Católica deve  enfrentar as questões do mundo moderno “de forma positiva, sem medo,  deixando para trás a ameaça constante do inferno e do fogo eterno”.
O correspondente do jornal norte-americano The New York Times,  Simon Romero, por sua vez, ressaltou os erros na visita do papa,  lembrando da chegada tumultuada no Rio de Janeiro, em que o carro que  levava o pontífice foi cercado por fiéis. O jornal criticou a pane por  duas horas do metrô carioca prejudicando milhares de passageiros,  principalmente peregrinos que se dirigiam a Copacabana, onde ocorria a  cerimônia de abertura da Jornada Mundial da Juventude. O jornalista  também informou que as autoridades do Rio de Janeiro têm enfrentando  críticas sobre a forma como têm lidado com as manifestações na cidade.

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