No mês passado, Robin Dunbar, professor da Universidade de Oxford
(Reino Unido), cujas ideias sobre a sociabilidade humana são influentes
no mundo acadêmico, apareceu em uma série de propagandas da cerveja Guiness em horário nobre no Reino Unido.
Os anúncios contam com uma situação cultural familiar para os telespectadores de comerciais de cerveja do planeta todo: a felicidade e união que vêm com reuniões masculinas encharcadas de álcool.
Os anúncios não pretendem levar os homens a fazer isso, já que eles
se saem muito bem sozinhos nessa tarefa. Eles pretendem provar a
importância do encontro, com Dunbar sendo a voz da autoridade
científica.
A propaganda busca proteger a prática milenar masculina de “tomar uma
juntos” da ameaça com potencial destruidor das mensagens de texto,
redes sociais e outras formas de comunicação eletrônica. O comediante e
ator Danny Wallace, em um dos anúncios da série, coloca de forma
sucinta: “A ciência diz: divirtam-se mais juntos, façam mais coisas”.
Em outro dos anúncios, Dunbar projeta um “experimento social” para
provar o argumento. Ele e Wallace pedem que um grupo de amigos jogue
futebol em videogames, cada um sentado em sua própria casa se
comunicando através de fones de ouvido. Em seguida, o grupo joga uma
partida real de futebol, lado a lado, a qual eles ganham de forma
dramática.
Os companheiros preenchem pesquisas depois de ambas partidas, real e
virtual, sobre como se sentiram em relação um ao outro, ou seja, o
quanto forjaram uma ligação social.
Embora este projeto tenha produzido um gráfico de dados de aparência
oficial, não se qualifica como uma experiência em qualquer sentido
científico da palavra. O tamanho da amostra é pequeno e não há grupo de
controle para provar que a diferença de camaradagem não foi devida a
qualquer número de variáveis ao invés de estar juntos ou não.
O fato de que jogar em um time de verdade aproxima mais as pessoas do
que ficar sentado em casa gritando para um fone de ouvido não seria um
choque, mas a experiência não descarta, de fato, a possibilidade de que
simplesmente ganhar o jogo pode ter causado o efeito. Ou que estar em um
ambiente externo, e não interno, não é importante. Ou que correr e
liberar endorfinas no corpo, em vez de sentar em um sofá, não é o fator
que desempenha o principal papel no resultado. Em resumo, este não é o
tipo de estudo que Dunbar tentaria publicar em uma revista científica.
Mas certamente é uma boa desculpa para homens de todo o mundo
convencerem suas namoradas e esposas de que o futebol de sábado é
essencial para seu bem-estar.
Vale ainda lembrar que não há nada de novo sobre anúncios alistando
autoridades médicas e científicas. Corporações pagam dezenas de milhares
de dólares para personalidades carismáticas dizerem o que a ciência
pode fazer para ajudar a vender seus produtos há anos. Acrobacias
comerciais dramáticas que “emprestam” métodos científicos são pelo menos
tão antigas quanto o Desafio Pepsi. Ciência comportamental simplificada
vende muitos e muitos livros. Por que não cerveja? [BusinessWeek]
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