Há um cupido digital em ascensão. O aplicativo Tinder ganha mercado ao
reunir, de forma inédita, os pontos-fortes de serviços rivais. Nele é
possível encontrar um novo amor (ou apenas sexo casual) cruzando dados
do Facebook ou identificando alvos geograficamente próximos. Os números
impressionam. Os usuários acessam o serviço onze vezes por dia e fazem
mais de 3 bilhões de avaliações de parceiros por mês. Os brasileiros
invadiram a plataforma: aqui, ela cresce com o triplo da velocidade do
mercado americano, onde nasceu.
O grande avanço do app é eliminar uma deficiência comum nos
concorrentes, a proliferação de perfis falsos, que desestimula usuários
de serviços como ParPerfeito e Ashley Madison — que juntos têm mais de
30 milhões de cadastrados no Brasil. Para afugentar as contas falsas, a
dupla de americanos Justin Mateen e Sean Rad,
criadores do Tinder, teve uma ideia simples: em vez de exigir o
preenchimento de um cadastro de adesão, os interessados em usar a
plataforma devem ter um perfil do Facebook e baixar o aplicativo do
Tinder, disponível para iOS e Android. O mecanismo funciona porque o
próprio Facebook mantém uma varredura em seu ambiente para eliminar
contas falsas e vem exigindo mais informações para o cadastro do
usuário, caso do número de celular, o que desestimula os piratas.
Zelar pela veracidade dos perfis não é uma preocupação acessória.
Fantasmas afugentam usuários de verdade. E há um grande mercado por trás
disso. Em julho, o órgão de vigilância da privacidade da Grã-Bretanha
(Information Commissioner’s Office) revelou uma investigação a dois
populares sites dedicados a encontros amorosos daquele país, que
abasteciam seus registros de usuários com dados de pessoas que jamais
tinham cogitado o uso das plataformas. O objetivo das empresas era
mostrar ao mercado que havia uma multidão lá dentro em busca de
companhia. Não era verdade.
Hoje, há pelo menos três companhias notórias por ajudar esses sites
de encontros a inflar suas bases de dados. Uma delas, a americana US
Date, vende pacotes com informações separadas por regiões geográficas do
mundo. Um pacote com pouco mais de 100.000 perfis — falsos,
evidentemente —, contendo 347.000 imagens de homens que vivem na América
Latina sai por 140 dólares. "Acompanhar o crescimento de um site de
namoro é como esperar ver uma árvore crescer. Compre perfis de maneira
rápida, a baixo custo, e popularize seu serviço", diz texto no site do
grupo.
Não é possível apurar o tamanho do contingente de usuários reais de
cada site ou aplicativo de namoro digital. Nos Estados Unidos, uma das
poucas indicações de que se trata de um setor promissor é a receita das
empresas locais: 1,05 bilhão de dólares, dinheiro proveniente de
publicidade e de clientes que pagam para ter acesso a recursos
especiais.
Em média, um americano que deseja encontrar sua alma gêmea no
universo digital gasta, por ano, 239 dólares com esses sites. A
clientela é divida quase igualmente entre homens e mulheres. O Facebook
do setor é o Match.com, com 96 milhões de cadastrados, segundo
informações da própria companhia. No Brasil, o site é representado pelo
ParPerfeito, com 30 milhões de perfis.
Lançado há cerca de dois anos, o Tinder experimentou uma aceleração
recente. Desde a criação, seus usuários já fizeram mais de 13 bilhões de
avaliações de potenciais parceiros. Três bilhões, contudo, foram feitas
só em agosto, último dado disponível. O Brasil, onde tradicionalmente
usuários adotam novos serviços rapidamente, é destaque. Há quatro meses,
o universo de cadastrados no país era tão pequeno que não era possível
medir a adesão à ferramenta. Em setembro, quase 6% de todos os usuários
de iPhone no país já acessavam o app, segundo levantamento da empresa de
inteligência móvel Onavo produzido a pedido do site de VEJA. Em
território nacional, o Tinder já tem o mesmo tamanho do serviço de
mensagens gratuitas chinês WeChat, que gastou milhões de dólares para
chamar atenção dos brasileiros. "É um avanço impressionante", diz o
americano Aaron Endré, analista da Onavo.
Além da faxina nos perfils falsos, o sucesso da dupla Mateen e Rad se
apoia na simplicidade e na geolocalização, considerada item fundamental
para um aplicativo móvel. "As pessoas interessadas em aventuras desse
tipo em geral começam a experiência dando preferência a usuários mais
próximos geograficamente", diz Ailton Amélio da Silva, professor de
relacionamento amoroso do Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo (USP). É a esperança de que, de fato, o amor more ao lado. Ao
aderir so serviço, o cadastrado escolhe seus alvos de acordo com gênero,
idade (a partir de 18 anos) e preferências relativas a lazer e hobbies,
entre outras. É possível encontrar pessoas a uma distância máxima de
100 quilômetros.
Opinião: Aplicativo de sexo no Facebook faz sucesso, mas pode ter vida curta
Há, no entanto, algo a se provar no mercado: o êxito do aplicativo
ainda não foi revertido em receita. Até o momento, o Tinder não possui
um modelo de negócio definido. Até ganhou atualizações recentes, mas
nada relativo a uma nova funcionalidade ou a uma possível exibição de
anúncios. "O Tinder precisa aproveitar a rápida adesão entre jovens.
Isso porque, em geral, o histórico dessas plataformas não é muito
promissor a longo prazo", diz Felipe Wasserman, professor de
comportamento do consumidor em mídia social da Escola de Propaganda e
Marketing (ESPM).
Oferecer recursos (envio de mensagens) e bens virtuais (flores,
chocolates) pagos podem ajudar a levar a rede a uma nova fase. "O Tinder
precisa evoluir rapidamente", diz Fernando Belfort, analista de
mercado da Frost & Sullivan. Até o momento, a plataforma fez a
alegria dos usuários. Falta o amor dos investidores.
Beranda
› celular
› tecnologia
› Saiba as razões da ascensão do Tinder, aplicativo de paquera de sucesso entre os jovens - principalmente os brasileiros
Assinar:
Postar comentários (Atom)