Em meio a tanta emoção colada nos tapumes da boate queimada e vigiada, existe ainda uma mistura de curiosidade e uma, talvez, justificada falta de sensibilidade de quem vem de fora, incitado pelo amplo destaque que o incêndio teve em todo o mundo.
É comum pessoas de fora de Santa Maria pararem em frente
ao local para tirarem fotos e conhecerem o lugar onde aconteceu uma das
maiores tragédias brasileiras.
Além dos parentes que diariamente trocam os cartazes,
depositam flores e imagens religiosas, uma policial militar passa o dia
em frente ao local, que é guardado por questões investigativas, uma vez
que o processo que apura a culpa do que aconteceu ainda corre na
Justiça, além de outras investigações ainda em andamento.
“Não gosto muito de ficar aqui, sinto que tem uma energia pesada, mas como estou trabalhando, a gente aprende a lidar com isso”, disse a policial, que perdeu duas colegas de faculdade na tragédia e que hoje faz guarda solitariamente em frente a boate.
Segundo ela, nunca ninguém tentou depredar o invadir
local, mas diariamente familiares depositam flores e trocam os cartazes
das vítimas. “Tem gente que vem de fora para conhecer, ficam perguntando
o que foi que aconteceu, tira fotos, como se fosse um ponto turístico”,
diz a policial.
Incêndio na Boate Kiss
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.
Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.
Com
apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram
dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos
mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela
queima da espuma.
Os
mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da
cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff
interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade,
onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.
Os
feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região
metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de
helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com
apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de
atendimento às vítimas.
Quatro
pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro
Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois
integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão
e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga
documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre
a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.
A
tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em
boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram
fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a
programação de Carnaval devido ao incêndio.
No
dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de
Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A
associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a
todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis,
acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no
esquecimento.
Indiciamentos
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.
Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.
O
inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no
momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das
irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que
a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular.
Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos)
existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a
boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas
adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas
apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não
havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.
Já
no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito
pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e
tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A
Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois
sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e
dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus
dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.
Por
fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira,
chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento
Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP
denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o
contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de
Elissandro - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.
Os
promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para
investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas
que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário
municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da
Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia
Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as
duas fazem parte da sociedade da casa noturna.
Comentar
14