O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), evitou
críticas ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) nesta sexta-feira a
respeito da atuação da Polícia Civil,
no dia anterior, na Cracolândia. Haddad também exaltou o trabalho na
Polícia Militar na região na parceria pelo programa municipal “Braços
Abertos”, que visa à retirada dos dependentes químicos por meios de
ações sociais integradas e reinsserção à sociedade.
"A própria Polícia Militar trabalhou para acalmar essas
pessoas; é preciso reconhecer que a corporação foi e tem sido uma
grande parceira da prefeitura", defendeu.
Ontem à tarde, moradores da rua Barão de Piracicaba
relataram uso de balas de borracha, spray de pimenta e bombas de gás
lacrimogêneo por policiais do Denarc (Departamento de Narcóticos) que
buscavam traficantes na Cracolândia. A diretora do órgão, a delegada
Elaine Biasoli, negou, à noite, que balas de borracha tenham sido usadas
e classificou a ação de repressão ao tráfico como “certíssima”.
Hoje, Haddad admitiu ter conversado por telefone, ontem,
com Alckmin, mas não disse se, pelo que foi falado, o tucano sabia da
ação do Denarc na Cracolândia.
“A reação dele foi boa. É sempre boa”, resumiu o
prefeito. De acordo com ele, o trabalho dos agentes de saúde e
assistência social foi retomado hoje “normalmente” com usuários que
queiram aderir ou já aderiram ao “Braços Abertos”.
“Nosso trabalho agora vai ser motivar esses agentes, que
ontem ficaram um pouco abalados, assim como motivar os beneficiários
para que retomem as atividades normalmente – hoje é o primeiro dia de
pagamento em uma semana, e a frequência desses trabalhadores só faz
aumentar”, definiu o prefeito, que enfatizou: “Podem espernear: nós
vamos fazer aquele trabalho (o “Braços Abertos”) acontecer.”
Haddad falou com a imprensa no Páteo do Colégio, centro
histórico da capital paulista, durante o lançamento da rede Wi-Fi
gratuita em praças e distritos da cidade. Até junho, ao custo de R$ 10
milhões, a previsão é que a rede esteja implantada em 120 localidades –
entre as quais o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp).
Secretário diz que viu arma de bala de borracha
Para o secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto
Porto, beneficiários do programa “se mostraram revoltados” com a ação
policial do dia anterior.
“Acalmamos essas pessoas, pois havia ainda a preocupação
de que o programa municipal fosse interrompido, o que não vai
acontecer”, afirmou Porto. “Cabe ao governo do Estado agora analisar a
atuação da Polícia Civil, que, para nós, foi exagerada”, complementou.
O secretário estava ontem na região da Cracolândia
durante a ação do Denarc. Indagado sobre a negativa do órgão policial
sobre uso de bala de borracha –a chefe do Denarc afirmou, ontem, que os
policiais de lá sequer contam com esse tipo de munição --, Porto
relatou: “Temos indicativo de pessoas atendidas no ‘Braços Abertos’ que
foram atingidas por balas de borracha, e eu, mesmo, presenciei
policiais civis com arma disparadora de bala de borracha. Se não tinha
munição, se era só para intimidar, cabe apuração do Estado.”