Terapia celular teve incríveis resultados ao erradicar câncer, segundo o maior teste clínico do gênero

Pesquisadores do Centro de Câncer do Memorial Sloan Kettering divulgaram nesta semana notícias animadoras sobre um dos métodos mais interessantes de tratamento de câncer que existem atualmente.
O maior estudo clínico de pacientes com leucemia avançada já realizado descobriu que 88% deles alcançaram remissão completa após o tratamento com versões geneticamente modificadas de células do seu próprio sistema imunológico. Os resultados foram publicados na revista “Science Translational Medicine”.
“Estes resultados extraordinários demonstram que a terapia celular é um tratamento eficaz para pacientes que já esgotaram todas as terapias convencionais”, comemora o diretor do Centro de Engenharia Celular do Memorial Sloan Kettering, Michel Sadelain, um dos autores sênior do estudo. “Nossos resultados iniciais foram consistentes em um grupo maior de pacientes, e já estamos procurando novos estudos clínicos para avançar nesta nova abordagem terapêutica do combate ao câncer”.
Linfócitos B maduros de leucemia linfoblástica aguda (B-LLA), um tipo de câncer no sangue que se desenvolve nestas células, são difíceis de tratar, porque a maioria dos pacientes sofre com recaídas. Os pacientes com B-LLA têm poucas opções de tratamento: apenas 30% respondem à quimioterapia intensiva. Sem um transplante de medula óssea bem-sucedido, poucos têm qualquer esperança de sobrevivência a longo prazo.
No novo estudo, 16 pacientes com B-LLA receberam uma infusão de suas próprias células imunitárias geneticamente modificadas, chamadas de células T. As células foram “reeducadas” para reconhecer e destruir células cancerosas que contêm a proteína CD19. A taxa de resposta completa global para todos os pacientes foi de 88% e mesmo aqueles com doença detectável antes do tratamento tiveram uma taxa de resposta completa de 78%, ultrapassando a taxa de resposta completa da quimioterapia intensiva.
Dennis J. Billy, do estado norte-americano da Pensilvânia, foi um dos primeiros pacientes a receber o tratamento, mais de dois anos atrás. Ele conseguiu se submeter com sucesso a um transplante de medula óssea, ficou livre do câncer e, desde 2011, voltou ao trabalho ensinando teologia. Paolo Cavalli, dono de um restaurante em Oxford, Connecticut, continua em remissão completa oito meses após receber seu tratamento com células T personalizadas.
A imunoterapia direcionada e baseada em células é uma nova abordagem no tratamento do câncer que utiliza o próprio sistema imunitário do corpo para atacar e destruir as células cancerosas. Ao contrário de um vírus comum, tal como o da gripe, o nosso sistema imunológico não reconhece as células cancerosas como estranhas e, portanto, fica em desvantagem na erradicação da doença.
Por mais de uma década, os pesquisadores do Memorial Sloan Kettering têm explorado maneiras de reestruturar as células T do próprio corpo para reconhecer e atacar o câncer. Em 2003, foram os primeiros a relatar que as células T manipuladas para reconhecer a proteína CD19, que é encontrada nas células B, podiam ser usadas para o tratamento de tumores dos linfócitos B em camundongos. Dez anos mais tarde, em março de 2013, a mesma equipe de pesquisa anunciou que 5 pacientes com B-ALL reincidente foram tratados com a técnica e apresentaram remissão completa.
Já no estudo atual, sete dos 16 pacientes (44%) conseguiram ser submetidos a transplantes de medula óssea – o atendimento padrão e a única opção de cura para pacientes com B-LLA – após o tratamento. Três pacientes eram inelegíveis por não terem conseguido alcançar a remissão completa, outros três devido a condições médicas preexistentes, dois se negaram e um ainda está sendo avaliado para um potencial transplante. Historicamente, apenas 5% dos pacientes com B-LLA recidiva eram capazes de fazer a transição para o transplante de medula óssea.
O estudo também fornece diretrizes para o gerenciamento de efeitos colaterais da terapia celular, que podem incluir vários sintomas semelhantes ao de uma gripe, tais como febre, dor muscular, pressão arterial baixa e dificuldade respiratória, conhecidos como síndrome de libertação de citoquinas. Os pesquisadores desenvolveram critérios de diagnóstico e um teste de laboratório que pode identificar quais pacientes estão sob maior risco de desenvolver a síndrome.
Estudos adicionais para determinar se a terapia celular pode ser aplicada a outros tipos de câncer já estão acontecendo.[Science Daily, Centro de Câncer do Memorial Sloan Kettering, Singularity Hub]

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