O mundo digital em alta velocidade das redes sociais,
quase sempre superficial, precisa de uma injeção de calma, reflexão e
ternura para se tornar "uma rede não só de fios, mas de pessoas", disse
nesta quinta-feira o papa Francisco.
O papa, em mensagem para o Dia Mundial das Comunicações
da Igreja Católica, também afirmou que, enquanto católicos devem
celebrar e defender suas ideias e tradições, não devem nunca pensar que
elas sozinhas "são válidas ou absolutas".
Mais uma vez o pontífice denunciou o "fosso escandaloso"
entre ricos e pobres, declarando que não é incomum ver sem-tetos
dormindo nas ruas sob o brilho da vitrines de lojas.
Francisco disse que os meios de comunicação e a
Internet, os quais ele chamou de "algo verdadeiramente bom, um presente
de Deus", poderia unir as pessoas, mas que a comunicação digital
frequentemente impede que elas conheçam de fato umas as outras.
"A velocidade com a qual a informação é comunicada
supera a nossa capacidade de reflexão e julgamento", disse Francisco em
sua mensagem.
"A variedade de opiniões sendo transmitidas pode ser
vista como boa, mas também pode levar as pessoas a se entrincheirar
atrás das suas fontes de informação, que vão apenas confirmar os seus
desejos e ideias, ou interesses políticos e econômicos", declarou.
Ele pediu que as pessoas sejam não só tolerantes no
ambiente digital, mas que também ouçam e tentem entender os pontos de
vista dos outros.
Francisco, 77 anos, nascido na Argentina, denunciou a
por vezes "agressão violenta" da mídia e de comunicações que têm como
objetivo principal a promoção do consumo e a manipulação.
"Precisamos de ternura. O mundo da mídia tem de ser
preocupar com a humanidade", disse ele. "O mundo digital pode ser um
ambiente rico em humanidade, uma rede não só de fios, mas de pessoas",
acrescentou.
Os católicos, segundo ele, devem dialogar com os outros.
"Dialogar significa acreditar que o outro tem algo importante a dizer",
afirmou. "Dialogar não significa renunciar as suas ideias e tradições,
mas a pretensão de que elas sozinhas são válidas ou absolutas."
Perguntado sobre esse trecho da mensagem, o arcebispo
Claudio Maria Celli, que chefia o Conselho de Comunicação Social do
Vaticano, disse que o texto não era "dogmático" e tinha o objetivo de
estimular a reflexão.
Quando cardeal, Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI,
antecessor de Francisco, manifestou preocupação de que os envolvidos em
diálogo entre as religiões encobriam as diferenças e diluíam a doutrina
para promover boas relações.
"Para o papa Francisco, o evangelho entra primeiro pelo
coração, e não pela cabeça", disse o padre Tom Reese, autor de livros
sobre o Vaticano e a Igreja.
Para ele, Francisco quer enfatizar que o diálogo
pressupõe "não só respeito, mas também admtir que os católicos podem
aprender coisas com os outros".